quarta-feira, 22 de julho de 2009

A importância das coisas

A nossa mente está estruturada de forma hierárquica. É óbvio, para qualquer ser humano algumas coisas são mais importantes do que outras.

Essa importância é comunmente atríbuida aos valores de cada indíviduo (ou dos valores partilhados pelos colectivos). Sem dúvida que os nossos valores, que se constituiem na nossa moralidade, ética, conjunto de interesses e competências, são responsáveis pela forma como se organiza hierarquicamente a nossa personalidade ou, por outras palavras, a nossa estrutura cognitiva. Mas não é a única.

A importância relativa que conferimos às coisas resulta da via interna, mas também é devida a causas externas. O nosso ambiente modula de forma determinante aquilo que consideramos importante, seja estrutural ou circunstancialmente. Embora, diga-se, pela reflexividade da nossa mente na sua relação com o meio esta separação seja extremamente fluída. Mas não deixa de ser relevante compreender que o que importa a cada individuo não é apenas uma questão de valores, mas também os assuntos com os quais se tem de confrontar com muita frequência.

É tão importante para a qualidade de vida de um cidadão ver o mundo evoluir de acordo com a sua moral ou com a sua ideologia, como a resolução de um problema muito concreto com o qual se debate no seu quotidiano. Para a qualidade de vida de um católico será tão importante constatar que se implementaram “boas” políticas de família como verificar que foi colocando um jardim onde anteriormente era um espaço abandonado; para alguém à esquerda a implementação de uma boa política social pode ser razão tão válida para se sentir melhor com o mundo tal como verificar que foi resolvido o problema de estacionamento na sua localidade. As políticas tal como as relações pessoais devem ter em conta que cada indivíduo valoriza certos aspectos por via da sua própria organização cognitiva, tal como valoriza outros aspectos porque os considera problemáticos e que, embora menos valorizados internamente, tem de lidar com eles com frequência no seu ambiente quotidiano.

Interiorizar esta visão é determinante para a forma como nos dispomos a avaliar o outro, seja no contexto individual seja num contexto de definição de uma prática política, porque nos permite compreendê-lo não só pelo que ele é mas também pela forma como o contexto o envolve e estimula. Para quem tem por objectivo criar espaços de conforto essa é uma questão absolutamente determinante.

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